Exhibition, 2016

BELA SILVA

Facing Forward ( Ceramic Artist Books )

The Magic Mountain

The Magic Mountain by Thomas Mann is one of Bela Silva’s favourite books.

One day, Monsieur Nono X gives Bela some old book covers and asks her if she could create something with it. At the same moment, two thousand miles away, Bela Silva had been collecting the same kind of book covers at the Brussels flea market.

In life, nothing happens by chance.

Bela Silva is nourished by beauty. To her, anything can become a source of inspiration. She is fascinated by the beauty of these covers, often displaying abstract motives that trigger dreams.

Suddenly, no one knowing why, she creates small enclosed spaces, small scenographies, small stage sets; timeless architectural constructions.

And then the old book covers step in. They become a wall, or perhaps a wallpaper, a landscape or a pensive skyscape.

Bela Silva likes to pick up stuff in the streets. Things unremarkable and ridicule for most people. Not for the artist.

Little plastic figurines most of the time, but also wooden or cardboard, exceptionally leaden ones: a gorilla, a flower, a cow, a dog, a tiger, a ball, a bear, a sensual leg, a moustachioed head, a soldier, a French singer and other creatures.

And all these people are living in Bela’s atelier. They watch her at work and they wait.

One fine morning one of the figurines, lost and errant in the vastness of the atelier, feels the warm fingers of its owner. Bela places the gorilla on an aqueduct; at the foot of the aqueduct a baker girl enjoys a stroll.

Bela’s little imaginary theatres welcome their actors. Let the show begin.

Right now, all the orphan figurines have found a nice place to live.

The theatre lives and travels the world, de tournée en tournée.

Bela gives a name to each little universe: « A summer’s love affair that has outlived many winters », « We are two, I’m not leaving you alone” or else “A mirror that shows a more colourful world » …

At this moment, we must climb the magic mountain. From the top, from the highest summit, we contemplate with astonishment the world of Bela Silva.

Because here, at the top of the magic mountain, our summer affair has lasted many winters.

Benoît, November, 2016

 

PT/

A Montanha Mágica

«A Montanha Mágica» de Thomas Mann é um dos livros preferidos de Bela Silva. Um dia, o Senhor Nono X oferece a Bela algumas capas de livros antigas e pergunta se poderia com isso criar alguma coisa. Nesse momento, a dois mil quilómetros de distância, Bela Silva colecionava o mesmo tipo de livros, que encontra na feira da ladra de Bruxelas.

Não há acasos na vida.

Bela Silva alimenta-se de beleza. Qualquer coisa pode ser para ela fonte de inspiração. Fica fascinada pela beleza dessas capas, muitas vezes com motivos abstratos, que fazem sonhar como as nuvens.

De repente, sem ninguém saber porquê, ela cria pequenos espaços fechados, pequenas cenografias, pequenos palcos de teatro, construções arquitetónicas fora do tempo.

E as antigas capas de livros encontram o seu momento. Tornam-se uma vez muralha, outras papel de parede, paisagem ou céu pensativo.

Bela Silva gosta de apanhar coisas na rua. Para o comum dos mortais, coisas banais e ridículas; para a artista, não.

Estatuetas de plástico, o mais das vezes, ou de madeira ou papelão, excecionalmente de chumbo: um gorila, uma flor, uma vaca, um cão, um tigre, uma bola, um urso, uma perna sensual, uma cabeça com bigode, um soldado, um cantor francês e outros bicharocos.

A tropa fandanga vive no atelier de Bela. Olham-na trabalhar e esperam.

Uma bela manhã uma das estatuetas, perdida e errante na vastidão do atelier, sente os dedos quentes da sua dona. Bela pousa o gorila sobre um aqueduto e por baixo do aqueduto passeia vagarosamente uma padeira.

Os pequenos teatros imaginários da Bela recebem os seus atores. O espetáculo pode começar.

Hoje, todas as estatuetas órfãs já encontraram um lugar onde é bom viver.

O teatro vive e viaja, de digressão em tournée pelo mundo.

Bela dá um título a cada pequeno universo: «Um idílio de verão que dura há muitos invernos», «Somos dois, não te deixo só», ou ainda «Um espelho que mostra um mundo mais colorido» …

Agora, é preciso subir a montanha mágica. Lá do topo, no cimo da montanha, contemplamos com assombro o mundo de Bela Silva.

Porque aqui, no alto da montanha mágica, o nosso amor de verão tem durado muitos invernos.

Benoît, Novembro de 2016