Exhibition, 2020

GENTES DO MAR

Cerâmica e outras Artes Decorativas do Séc.XX

PT/

Num país continental com uma extensa frente de mar, a faina piscatória e a venda de peixe impuseram-se como leit motiv de uma representação que vendia não a imagem de um Portugal pobre, mas a de uma nação que mantinha autenticidade e ancestralidade tão telúricas quanto ela própria.

A representação do pitoresco das comunidades piscatórias teve o maior expressão na pintura, na escultura e na fotografia, mas também nos objectos quotidianos e nas artes ditas decorativas com especial relevo na cerâmica. Pescadores e peixeiras, de norte a sul, contribuíam para promover, tanto para uso interno como internacionalmente, um país típico e autêntico.

O remendar das redes, o puxar dos barcos para o areal, o transportar e o vender o peixe nas canastras, os quadrados da roupa dos pescadores ou o veste preto das suas mulheres, constituíam atractivos suficientes para que a cenografia da vida ganhasse notas de cor, mesmo quando retratadas no preto e branco dos filmes. Eram, sobretudo, imagens com personagens vivas de um território que ganhava nova atractividade no pós-guerra, como destino de férias em ascensão: o mar, o sol, o areal, enfim, a praia. Numa sociedade de papéis claramente distintos, em traços gerais, ao homem cabia as tarefas ditas mais árduas, como o cuidar das embarcações, o remendar das redes e, sobretudo, as idas ao mar para pescar o peixe que permitia o sustento do lar. Ás mulheres, sempre em terra, cumpria-lhes sobretudo o cuidar do lar e dos filhos, que complementavam com a venda a retalho do pescado.

Neste contexto, as comunidades nazarenas e as varinas de Lisboa assumiram um protagonismo particularmente relevante.

Com este quadro subjacente, a galeria Objectismo apresentou a exposição Gentes do Mar, Cerâmica e outras artes ecorativas no Portugal do século XX onde predominam objectos cerâmicos, mas rica em conteúdo imagético e transversal às novidades artísticas em consonância com o seu tempo.

Peças de importantes artistas portugueses como Querubim Lapa( ), Ferreira da Silva( ), Hansi Stael( ) ou Jorge Barradas( ) entre outras, de diversas fábricas como a Secla, Caldas da Raínha Viúva de Lamego, Lisboa ou a Aleluia, Aveiro, encenam dois distintos núcleos expositivos: um núcleo, o lado masculino da faina piscatória, e, por isso, mais transversal a todo o litoral português. Um outro, aposta na representação do papel destinado à mulher, centrando-se exclusivamente na figura de nazarenas e varinas. Das representações mais naturalistas às mais estilizadas, os temas da faina piscatória e dos seus actores encontra eco neste conjunto de objectos que documenta gostos e sentidos estéticos de um espírito moderno que, sendo de tempos passados, hoje apetece possuir.

António Miranda