Cecília de Sousa
(n.1937, Lisboa)
PT/
Cecília de Sousa destaca-se como um dos nomes mais importantes de entre os artistas que se dedicaram à produção cerâmica na segunda metade do século XX. A sua obra é dotada de uma expressão poética, da linha e da cor, que ganha cada vez maior identidade e se acentua no contraste progressivamente matérico dos seus objetos.
Poucos artistas trabalharam a cerâmica na dimensão que Cecília de Sousa o fez. Ela introduziu nas suas criações o tempo, a erosão, a memória de criações e civilizações arcaicas, construindo peças que parecem quase arqueológicas, testemunhos de idades esquecidas e culturas ignoradas.
Não obstante o brutalismo evidente de alguns objetos, a desmesura das suas dimensões, todas são pontuadas por uma subtileza, uma doçura que nos cativa, não no imediato, mas quando nos perdemos observando-as, sentindo os acidentes e o desgaste a que foram sujeitas, um pouco como o rosto pode testemunhar uma existência feita de muitos momentos, traçado por inúmeras experiências, burilado pela vida. Assim é a obra de Cecília de Sousa, uma ceramista que partindo da lógica e estética do seu tempo descobriu, no seu percurso, o caminho da intemporalidade.
Aos 13 anos de idade, o pai inscreve Cecilia de Sousa num curso de lavores femininos na prestigiada Escola de Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, mais adequada aos destinos domésticos tradicionais que eram então consagrados às mulheres, mas Cecilia rejeitou obstinadamente esta hipótese e conseguiu ser matriculada no Curso de Cerâmica. Esta impertinência juvenil seria fundamental para a sua vida, revelando desde logo um temperamento afirmativo e perseverante que, como veremos, permitiu estruturar uma continuada carreira como ceramista.
Concluído o Curso de Cerâmica em 1955, realizou no ano seguinte uma viagem a França e Suiça, aí tomando conhecimento da obra de Rouault Modigliani e Vieira da Silva, facto assinalado com peso biográfico pela autora e que, como veremos, articula directamente com as suas escolhas estéticas. Ainda em 1956, mantém a colaboração com Manuel Cargaleiro na produção dos azulejos da fachada da Igreja de Santo António em Moscavide, construída entre 1953 e 1956. Em 1957, foi aceite a sua particioação na Exposição de Artes Plásticas da recém-criada Fundação Calouste GulbenKian.
O primeiro reconhecimento do seu trabalho mais do que serenar, estimulou ainda mais a inquietação e curiosidade em conhecer o que de melhor se fazia na disciplina que elegera como sua, a Cerâmica, facto que a levou a cumprir, no mesmo ano, uma breve passagem pelo estúdio SECLA nas Caldas da Rainha, referência para a cerâmica moderna em Portugal, principalmente através desse Estúdio onde pontuava então a ceramista húgara Hansi Stael, tendo ficado como documento desta incrusão a pequena travessa com gestos.
Ao fim de 11 anos de intenso trabalho, Cecilia participou em vinte e três exposições, cinco das quais no estrangeiro, e três individuais; recebera quatro prémios nacionais em 1957, 1962, 1964 e 1965; executara encomendas para espaços públicos em Portugal e Espanha, colaborando com alguns dos nossos melhores arquitectos e decoradores.
Obra Pública: Hotel Fénix, Lisboa – Painéis para uma loja na rua do Ouro em Lisboa (Tito Cunha) – Hotel Estoril Sol – Hotel Sol e Mar, Albufeira – A Brasileira, Porto – Hotel Faro – Cinema Lido, Amadora – Hotel Alvor, Algarve – Hotel Tivoli, Lisboa -Colégio Amor de Deus, Carmona, Angola – Oura Hotel, Albufeira – Escola Preparatória, Carnaxide – Lisnave em Almada – Fábrica “Dan Cake”, Santa Iria de Azóia – Metropolitano de Lisboa, Estação dos Olivais.