Jorge Barradas

(1894-1971, Portugal)

Jorge Nicholson Moore Barradas  dedicou-se desde cedo à prática do desenho, o mesmo que lhe valeria um lugar entre os principais nomes do modernismo português. Criador de uma obra multifacetada – pintura, caricatura, ilustração e cerâmica – os primeiros anos da sua carreira foram essencialmente marcados pela atividade de ilustrador em revistas e periódicos, seguindo-se o contacto com a pintura e, mais tarde, com a cerâmica, na qual Jorge Barradas desenvolveu uma obra notável ao longo de quarenta anos.

A partir da década de 1940, é o trabalho de ceramista que acompanhará Jorge Barradas até ao fim da sua vida, numa redescoberta e renovação deste suporte, de cujo último grande mestre havia sido Rafael Bordalo Pinheiro. A abordagem de Barradas ao suporte cerâmico demarca-se pela sua versatilidade: escultura de vulto, azulejo, objetos decorativos como jarras, bilhas, potes, e ainda painéis de alto e baixo-relevo que realizam um pleno diálogo com a arquitetura onde se inserem. Todos estes trabalhos são trespassados por uma estética naïf, próxima do trabalho dos oleiros populares, à qual se aliam influências do biscuit rocaille, visíveis na modelação e paleta empregues. O gosto pelo decorativismo, cultivado ao longo do seu percurso como ilustrador, é igualmente notório, aproximando-se, por vezes, de um horror ao vazio barroquizante, enfatizado pela inclusão de elementos como putti, vasos com flores, colunas torsas, cornucópias da abundância, típicas de um universo classizante.

“… A característica mais saliente das suas cerâmicas é a “constante estética” :  sobriedade nas formas, tranquilidade nos esmaltes, dignidade nos motivos, compreensão perfeita, afinal, do que é a cerâmica como expressão, trabalhada em volume e não em superfície, domínio sobre uma matéria que, sendo domável, é sempre caprichosa e traiçoeira por vezes. Mas Barradas sabe o que quer, trata-a com amor, não lhe exige contorcionismos ou obesidades, antes lhe valoriza o corpo com massagens de vidro aveludado.”

Excerto do texto de João dos Santos Simões no catálogo da exposição do SNI , Palácio Foz, Dezembro de 1948.