SECLA
Caldas da Raínha, Portugal (1947-2008)
Secla Factory, Caldas da Raínha, Portugal
PT/
Corria o ano de 1944 e a II Guerra Mundial estava a terminar. Joaquim Alberto Pinto Ribeiro adquiriu a antiga fábrica de cerâmica Mestre Francisco Elias, nas Caldas da Rainha, cidade há muito tempo ligada à cerâmica, com o propósito de produzir “louça das Caldas” para venda nos mercados internacionais. Foi este o primeiro embrião da SECLA, uma unidade fabril, encerrada em 2008, e que teve um papel fundamental na renovação do gosto, das formas e das técnicas de fabrico da cerâmica. E isto, principalmente, pela aposta na cerâmica de autor, recorrendo a ceramistas, pintores e escultores que, entre os anos 50 e 70, realizaram protótipos com o objectivo da produção em grande escala.
A “louça das Caldas”, peças decoradas com motivos naturalistas, frequentemente em relevo e apenas com finalidade decorativa, herdeiras de uma tradição que encontra em Rafael Bordalo Pinheiro a sua figura maior, serviu de eco à SECLA, no seu início – tanto mais que a produção era, nessa altura, totalmente manual, feita na roda ou por modelação. Mas a louça apenas decorativa não satisfazia as exigências do mercado internacional, em particular o norte-americano, que precisava, então, de peças utilitárias. A fábrica teve que se adaptar, tanto ao nível técnico como ao nível do gosto – que, já na época, obedecia a padrões internacionais modernos.
A partir de 1950 foi criado o Estúdio SECLA, onde artistas desenvolviam peças de autor, em cerâmica, ao mesmo tempo que protótipos, frequentemente assinados, que podiam depois, caso fosse possível, ser reproduzidos para o mercado internacional. Uma produção original, de autor, que contribuiu para introduzir a estética moderna no design. A produção feita neste estúdio durou cerca de vinte anos; uma produção original, de autor, que contribuiu para introduzir a estética moderna no design, com forte evolução formal e técnica que se verificou, também, na escultura e na pintura.
A iniciativa de trazer artistas de certo renome para colaboração na SECLA deveu-se a Pinto Ribeiro e, provavelmente, à realização do Salão Nacional de Artes Decorativas, em 1949, que veio chamar a atenção para o sector. O primeiro nome de relevo associado à cerâmica da SECLA foi o da ceramista finlandesa Hansi Staël, que vivia em Portugal, e que a partir de 1954 passou a dirigir artisticamente a produção da fábrica. As suas peças de uma elegância indiscutível, quer na decoração, feita a partir de tipos populares ou vegetais estilizados, quer nas formas, sóbrias e funcionais dão sinais da renovação estética queb então se iniciou. Ainda destes primeiros anos do Estúdio é de assinalar a contribuição de Ferreira da Silva, conhecedor e admirador da arte sua contemporânea, também ele, como Pinto Ribeiro, sócio da SECLA. Outros artistas de relevo, foram Thomaz de Mello (Tom), cujas peças revelam inspiração abstracta, outras reflectindo sobre a tradição da cerâmica popular caldense, e o casal Júlio Pomar e Alice Jorge: o primeiro, à época, já destacada figura do neorealismo, onde a arte tentava a resistência às normas oficiais; a segunda com obra de gravadora e pintora, cujas peças denotam uma atenção particular às técnicas. Maria Antónia Parâmos, José Aurélio e António Quadros continuam esta linha. Aurélio, escultor, revela uma atenção às possibilidades plásticas do barro que não se encontra naturalmente em António Quadros, pintor, onde é possível detectar o conhecimento da obra cerâmica de Picasso, ou o ensaio de um retorno a um certo primitivismo da arte cerâmica. De Luís Ferreira da Silva, que trabalhou na SECLA já nos anos 60, há uma tentativa de inovação formal e técnica mais evidente, que inclui, por exemplo, a inclusão de desperdícios, de cacos partidos nas suas obras. Nos últimos anos do Estúdio SECLA, há uma atenção cada vez maior à matéria, aos sinais evidentes da cozedura e à forma, que acompanham o interesse pela abstracção nas demais artes deste período. Herculano Elias, o próprio Joaquim Alberto Pinto Ribeiro, Miria Toivola Câmara Leme, José Santa-Bárbara, Leonore Davis e Ian Hird são os últimos artistas do período de funcionamento do estúdio Secla. A partir da década de 70, a SECLA orientou-se exclusivamente para a produção em série. Mas a experiência do Estúdio ficou como um marco na história da cerâmica portuguesa.
Responsável por uma das produções de faiança decorativa mais cosmopolitas do século XX em Portugal, a Fábrica Aleluia, Aveiro, afirmou-se pela moderna inventividade das sua criações. Apesar das notórias influências internacionais, a Aleluia conseguiu, ao longo dos anos, criar um conjunto de linhas de produção, com uma gramática decorativa própria, claramente distintiva dos contextos nacional e internacional. Numa primeira fase, a fábrica apostou sobretudo na qualidade técnica da pintura, aplicada sobre formas estruturalmente simples, muitas vezes de raiz clássica. Mas, nas décadas de 50 e 60, as formas tornam-se escultóricas, tirando partido da assimetria e da fluidez das linhas curvas, como se de órgãos vivos se tratassem. Acompanhado as tendências do design cerâmico ocidental, inéditas em Portugal, a originalidade destas peças reside no diálogo entre as formas e um eficiente grafismo de cores fortes, sublinhando os detalhes e acentuando a organicidade dos volumes.
Após a sua venda no início dos anos 70, a empresa termina com a produção da faiança decorativa e abandona as suas instalações na Fonte Nova em Aveiro.