Hein Semke
(1899, Hamburgo-1995)
PT/
Hein Semke dedicou-se à Pintura, Escultura e, sobretudo à Cerâmica. Realizou os seus estudos em Hamburgo e Estugarda, mas um complexo percurso vivencial e político, aliado a razões de saúde, determinaram a deslocação de Hein Semke de Hamburgo para Lisboa, em 1932. No meio escultórico português da década de 30, tutelado pelas figuras de Rodin e Despiau e dominado pelo modelo de estatuária definido por Francisco Franco, Hein Semke representará um dos raros casos de individualismo e independência e sua escultura será a via de penetração do expressionismo escultórico alemão, introduzindo uma nota de desassossego na amabilidade plástica portuguesa.
O retrato e a temática religiosa serão os géneros escolhidos para esta renovação que formalmente se processa através da síntese e da planificação volumétrica, por vezes arcaizante, resultando em propositadas abstracções, de natureza simbólica. O retrato apresenta registos diversificados: o realismo e a frieza que articulam com a tradição do retrato realista romano ( Heinz Kohler ); o expressionismo formal do seu Auto-retrato , mais violento e dramático na série M. Z. ; o interesse por outras culturas ( Alzira ), próprio do modernismo; ou a simplificação formal e compositiva que conduz à abstracção (cabeça de Ilse kohler ). Se todos os retratos adoptam a força plástica das complexas psicologias que os sustentam, os temas religiosos assumem o carácter de compromisso ético ao reactualizar o religioso no social, não num social abstracto, mas reportando-se a situações contemporâneas. Melhor do que em qualquer outro campo, torna-se visível a influência de Ernst Barlach, com a conversão de cada forma e volume em expressão do mundo interior, dos sentimentos contraditórios que se digladiam no mais íntimo do homem. Por esta razão, em tempos próximos e pouco favoráveis, muitas esculturas seriam alvo da destruição.
Retratos datado da década de 30, constituem um exemplo excelente da integração do artista no ambiente artístico modernista português e da partilha dos seus anseios de renovação, como demonstra o Retrato de António Navarro. Com os seus principais protagonistas partilhou os referidos anseios de renovação plástica e participou nalgumas das principais manifestações de independência e inovação, que os artistas organizaram como alternativa a um ambiente sufocante e conservador ou naquelas em que o modernismo, na sua expressão mais apaziguada, se tornava oficial através das iniciativas promovidas desde o SPN/SNI .
A lei para a protecção dos artistas nacionais promulgada em 1941, que proibia encomendas e aquisições a artistas estrangeiros, ao privar Hein Semke de encomendas oficiais, haveria de afastá-lo progressivamente da escultura e encaminhá-lo para a prática da cerâmica, onde irá desempenhar uma função renovadora igualmente relevante.
Em 1957 participa na I Exposição de Artes Plásticas, da FCG, realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes. Em 1972 realiza na Fundação Calouste Gulbenkian a exposição retrospectiva Hein Semke – 40 anos de Actividade em Portugal, onde apresenta cerca de 250 obras. Em 1991 realiza no Museu do Azulejo a sua segunda exposição retrospectiva Hein Semke – Cerâmica.